sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago...

As pequenas (grandes) memórias.

De manhã li, as seguintes palavras da investigadora Sara Pereira:

"Panorama da TV para a infância não é tão mau quanto se pensa".

- Que "sabor" têm para ti estas palavras?

Pergunta-me o meu melhor amigo, que percebera a dor, por mim sentida quando o meu filho, que chegava da Universidade do Minho, me dissera: "Morreu José Saramago!"

Neste momento, não encontro melhor resposta, que a partilha das palavras "agro-doces" que podemos encontrar nas páginas 19 e 20 do testemunho de José Saramago, em "As Pequenas Memórias":

"Atravessar sozinho as ardentes extensões dos olivais, abrir um árduo caminho por entre os arbustos, os troncos, as silvas, as plantas trepadeiras que erguiam muralhas quase compactas nas margens dos dois rios, escutar sentado numa clareira sombria o silêncio da mata somente quebrado pelo pipilar dos pássaros e pelo ranger das ramagens sob o impulso do vento, deslocar-se para cima do paul, passando de ramo em ramo na extensão povoada pelos salgueiros chorões que cresciam dentro da água, não são, dir-se-á, proezas que justifiquem referência especial numa época como esta nossa, em que, aos cinco ou seis anos, qualquer criança do mundo civilizado, mesmo sedentária e indolente, já viajou a Marte para pulverizar quantos homenzinhos verdes lhe sairam ao caminho, já dizimou o terrível exército de dragões mecânicos que guardava o ouro de Forte Knox, já fez saltar em pedaços o rei dos tiranossauros (...). Ao lado de tão superiores façanhas, o rapazinho da Azinhaga ...

... era "capaz de apanhar uma lagartixa à mão".

Meu amigo conclui, com as palavras do livro dos Conselhos:

DEIXA-TE LEVAR PELA CRIANÇA QUE FOSTE.

- E serás eterno! - acrescenta alguém.


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