segunda-feira, 14 de setembro de 2009

PESSOA (6ª semana)


Capítulo 3 – MUNDO PROCURA A FAMÍLIA

- O meu “prato” preferido é... “céus estrelados”.

Tantas vezes, nas mais diversas situações, muitas pessoas ouviram este detalhe, espontâneo, que caracteriza (Ed)Mundo: dormir ao relento, olhando os minúsculos pontos luzentes bem lá em cima no firmamento, é uma “outra comida” que energetiza esse rebelde louco.
Enquanto não adormece, Mundo vai mantendo um diálogo com o firmamento:

- Que olhitos tão pisqueiros vocês têm!

Eles piscam, piscam, piscam… A reflexão continua:

- Eu vejo-vos pequeninos… e eu, como sou visto por vós?

Silêncio eloquente.

- Penso que sou tão minúsculo que não me vedes, porque desapareço, nesta distância que nos separa… mas que, curiosamente, nos une… Talvez só me sintam esta cósmica paixão!
Olho para si leitor/a. Fixo os seus olhos… Esses seus olhos molhados dizem algo que ao longo desta aventura do espírito, será descodificado!

São 8 horas da manhã. O Sol já deu o seu beijo fraternal às suas manas que habitam as montanhas, as florestas, os vales, as aldeias, as vilas, as cidades…

Com uma mochila de sobrevivente, mundo deixa Carvalheda e dirige-se para a Bouça do Caneiro, perto de uma reserva integral. As flores, mestres em cores formas e fragrâncias, saúdam-no:

- Olá, Mundo! Que bom ver-te e sentir-te por estas paragens!, diziam num coro primaveril.

Leitor/a, que lhe diz o sorriso luminoso de Mundo?

Sabe Mundo é um paradoxo. É uma espécie de Filho Pródigo: desligou-se da família para procurá-la.
É, você tem razão, em abanar a cabeça: faz pensar em “loucura”!

O que é que Mundo nunca experimentou? Ele faz-me pensar naquela criança que à procura do seu brinquedo perdido, não se preocupava com o lixo que contaminava as suas mãos e lhe atacava o nariz.
Mundo é um espelho do pior e do melhor que, paradoxalmente, caracteriza “o mais profundo enigma da natureza: a natureza humana”. Obrigado, CC, pela força desta essência! (11)

Um efeito especial do Tempo e Mundo encontra-se noutro lugar da sua eleição: que é, para ele, o espaço mais nobre das proximidades da cidade BA.
Apesar de ser o dia 27 de Maio, está um dia “para se comerem as cerejas ao borralho”: chuva de molha todos e tolos, que dá ao ambiente um aspecto cinza-fumo, que oculta o vale; a temperatura andará nos 12 graus… Depois de uma volta por parte da Cerca, eis Mundo abrigado, solitário, sentado num dos 2 bancos, a escrever no átrio de uma capela vazia: S.B.
Leitor/a, Mundo será você? Serei eu, o narrador? Sabe, você e eu temos um valor que riqueza alguma do paradigma economicista pode pagar!
Dê uma espreitadela por um dos buracos de cada uma das meias portas (estas guarnecidas com uma espécie de puxadores de latão).
- O que vê?
- Um chão em pedra, um gradeamento metálico com barras verticais encimadas com pontas em forma de lança, quatro degraus de pedra e, nas paredes laterais, uns azulejos azuis e brancos cujo motivo não consigo perceber… Em cada uma das paredes uma janela e uma espécie de caixa ou espaço vazio em pedra.

- Você sabe qual é o significado deste escadório?
- Sim, li-o na placa interpretativa.
- Não será paradoxal que este troço de virtudes termine numa capela vazia?

Contemplo o espaço envolvente em 180 graus.
Ao longe a neblina soltou os aglomerados habitacionais, o verde próximo dos castanheiros, das camélias, dos buxos… Estão mais vivos.
Um avião voa para além das nuvens, um pingar constante mistura-se aos chilreios mais diversos da passarada (falta a guardiã da Cerca, para me ajudar na identificação, não é assim, Amélie?).
Eis uma espécie de metáfora da vida que nas suas manifestações mais plurais questiona Mundo, esse “louco” solitário que pode ser você ou eu.
Ouvem-se doze badaladas. Será meio-dia numa capela vazia?

- Porquê esta relação rimada?, pergunta você leitor/a ou perguntamos nós…
- Olhe para as construções que vão enchendo o vale. Desde que a luz da aurora realçou as cores na paleta do vale, que pensamentos, que sentimentos, que relações se pintaram nas telas individuais, familiares, sociais…
- Sim e….?
- Que mensagens transmitem os mais diversos quadros expostos na galeria da Vida, neste Domingo de Maio?

Neste espaço mental ou do imaginário, entra o duo Razin e Corin. Dizem duas palavras seguidos de dois pensamentos e desaparecem tão depressa como chegaram: Cinzento e Vazio. “Não ameis o mundo…” e “amou de tal maneira o mundo…”.

- Mundo, interpelo eu o narrador, que pretendem Razin e Corin com esta intromissão?
- O céu está cinzento, mas acima, brilha e aquece o Sol do meio-dia; o vazio permite encher… sou tantas vezes incoerente mas sou amado não tanto pelo que sou, social ou culturalmente, mas como poderei vir a ser o que sou em essência, ainda em semente, semente que acorda com a luz e o calor do meio-dia e… que poderá encher uma capela vazia….

Um casal, relativamente jovem, passa por mim, narrador. A senhora saúda-me:

- Boa tarde!
- Boa tarde!, responde…

Quem? O narrador? O/a leitor/a? Mundo?

Sem comentários:

Enviar um comentário